Presidente da instituição participou da primeira edição do “Papo Supremo”, que reúne ministros do STF e alunos de Ensino Médio do Sesi-SP para um debate sobre questões relevantes da Constituição
Por: Alex de Souza, Fiesp e Sesi-SP
23/10/202418:52- atualizado às 19:08 em 23/10/2024
Cerca de 150 alunos e gestores da Escola Sesi de São Bernardo do Campo participaram na quarta-feira (23/10), na Fiesp, do primeiro encontro do projeto “Papo Supremo”. Iniciativa do Departamento Jurídico da Fiesp (Dejur) e do Sesi-SP, o evento tem como objetivo promover a interação entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e alunos do Ensino Médio da instituição.
“Somos herdeiros do último país da Europa a acabar com a inquisição, com o tráfico negreiro e com o absolutismo. E em pouco mais de 200 anos o Brasil se tornou a quarta maior democracia, a oitava economia do mundo. Ainda que não estejamos na velocidade desejada, estamos na direção certa”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, na primeira série do encontro.
Foto: Karim Kahn / Sesi-SP
O projeto contará com mais 10 encontros, em que os ministros abordarão temas relevantes da Constituição com os jovens. “O objetivo do evento com os ministros do STF é gerar reflexões, pensamento crítico, formar os jovens como cidadãos e, principalmente, desenvolver neles as habilidades de argumentação e liderança”, pontuou o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva.
O ministro abordou questões referentes à defesa da democracia, reindustrialização do país, mudanças climáticas, igualdade e educação. O evento teve transmissão ao vivo para mais de 23 mil estudantes do Ensino Médio das 142 unidades de ensino do Sesi-SP, espalhadas por todo o estado.
“Democracia significa governo da maioria, com a possibilidade de todos participarem em igualdade de condições, respeitadas as pessoas nos seus direitos fundamentais”, declarou Barroso, ao lado de Josué, do superintendente do Sesi-SP, Alexandre Pflug, do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, e do diretor titular do Departamento Jurídico da Fiesp, Flávio Unes.
Ainda sobre a democracia, Barroso fez um alerta. “Embora seja difícil e muito complicado negociar com pessoas que pensam diferente e que não estão ali para te ajudar, mas um sistema democrático é muito melhor do que uma ditadura, em que as pessoas precisam lidar com censura, intolerância política, com presos políticos, torturas e exilados”, explicou o ministro.
O encontro, que tratou de ações afirmativas e o enfrentamento da desigualdade, começou com uma apresentação das representantes do 3º ano do Ensino Médio da Escola Sesi de São Bernardo do Campo, Maria Eduarda Pereira dos Santos e Natália Calicchio Moreno.
Em sua fala, Natália destacou o papel da escola para garantir a promoção e o respeito à diversidade e disse que “ter um corpo docente diverso, com professores negros, indígenas e representatividade LGBTQIA+ é importante, porque a escola é o recorte da sociedade”.
E Maria Eduarda afirmou ser o protagonismo estudantil algo essencial para que os alunos desenvolvam o pensamento crítico. “É muito bom ter um espaço de conversa com os alunos para sair do teórico”, disse.
Foto: Karim Kahn / Sesi-SP
Em relação às transformações da sociedade, Barroso classificou a ascensão feminina como a maior mudança dos últimos 100 anos. Elas passaram a frequentar a escola, no final do Século XIX, passaram a votar no Brasil a partir de 1932, deixaram de ser relativamente incapazes e dependentes do marido a partir de 1962, com o Estatuto da Mulher Casada.
“Ao longo dos anos 1960 e 1970, vem a conquista da liberdade sexual, acesso ao mercado de trabalho, e a Constituição de 1988 acabou com o fato de o homem ser o chefe da sociedade conjugal, legitimou as uniões estáveis e, neste momento, estamos enfrentando a violência sexual e doméstica contra as mulheres”.
Também disse que o país precisa buscar a igualdade e inclusão racial. “Cerca de 50% das pessoas se identificam como pretas ou pardas. Devemos ter o compromisso e o dever para reparar as injustiças”, afirmou. A consciência disso, segundo o ministro, deve estar presente para promovermos equidade racial e respeito a todos, independentemente da sua orientação sexual. “O que vale são os nossos afetos e todos têm o direito de serem respeitados por isso”.
Ele destacou ainda a necessidade de promover a integração das pessoas com deficiência. “No Judiciário, validamos as ações afirmativas no acesso às universidades públicas, com a reserva de 20% nos concursos públicos”, destacou.
Sobre as comunidades indígenas, Barroso disse que as áreas demarcadas são uma das formas de preservar o meio ambiente no país. “As áreas legitimamente demarcadas são as de melhor preservação ambiental no país”.
Em sua fala, o ministro lembrou que o mundo passa por um momento delicado e o homem precisa agir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
“A Amazônia está vivendo sua maior seca da sua história, o Pantanal sofreu com a maior queimada de história e o Rio Grande do Sul com as maiores inundações da sua história”, ressaltou. “A natureza está avisando a todos nós que alguma coisa errada está acontecendo. Precisamos ser capazes de atuar e realizar a transição energética, para impedir que o planeta seja destruído”.
Ao abordar o combate à pobreza, Barroso destacou a necessidade de retomar o crescimento econômico e o papel que a indústria pode desempenhar neste objetivo. “Os outros setores crescem mais ou menos no mesmo ritmo da economia, mas o que impulsiona o crescimento do país é crescimento da indústria. Precisamos viver um processo de reindustrialização do país e promover a sua valorização. Sem crescimento não tem o que distribuir”, afirmou.
Foto: Karim Kahn / Sesi-SP
Juiz do STF há 11 anos e professor há quatro décadas, Barroso também falou de sua visão de mundo e de suas experiências. “Ter uma atitude positiva e construtiva diante da vida é muito bom, porque a vida sempre oferece novas oportunidades. O futuro não é o destino que a gente cumpre, mas uma história que a gente trilha e caminhos que a gente escolhe”, apregoou.
O ministro contou aos alunos sua trajetória desde sua infância, na cidade de Vassouras (RJ), até os dias atuais. “Uma vida completa não é feita somente de vitórias. Há muitas lutas depois da vitória e existe vida depois de derrota”, lembrou.
Entre os pontos classificados por ele como caminhos para o sucesso da felicidade, estão ter o conhecimento das coisas e de ser gratos por isso. “Vocês têm a oportunidade de estudar em uma escola acima da média, e devem reconhecer isso todos os dias. A gratidão é um sentimento que faz a vida ser melhor”, finalizou.
Foto: Karim Kahn / Sesi-SP
Foto: Karim Kahn / Sesi-SP